A inclusão rompe com os paradigmas que
sustentam o conservadorismo das escolas, contestando os sistemas educacionais
em seus fundamentos. Ela questiona a fixação de modelos ideais, a normalização
de perfis específicos de alunos e a seleção dos eleitos para frequentar as
escolas, produzindo, com isso, identidades e diferenças, inserção e/ou
exclusão.
O texto de Ítalo
Calvino intitulado "O
modelo dos modelos" postula
a redefinição de nossas práticas. Assim, podemos desenvolver uma reflexão a
cerca das características do modelo vigente para o modelo que almejamos. Para
isso, torna-se necessário algumas indagações onde possamos estabelecer relações
entre as principais ideias do autor e nosso fazer pedagógico. Portanto, que
modelo estamos seguindo? Quais os modelos que queremos? Quais os entraves,
gargalos que nos impedem de avançar? A quem beneficia o modelo vigente? Às
partes ou ao todo? Será que esse modelo ver a escola como espaço de
socialização e vivência? Entende que o significado da prática considera o
âmbito plural em que os educandos estão inseridos? Que além do contexto social
e das experiências que cada aluno tem, e traz para a vida escolar, tem o direito
de ser respeitado em suas mais diversas formas de expressões? De que forma esse
modelo tem contribuído para a garantia de acesso, participação, aprendizagem e
permanência do aluno com deficiência na sala de aula do ensino comum, bem como
sua matrícula e atendimento educacional especializado (AEE) de forma
satisfatória na sala de recursos multifuncional?
Por que olhar por
partes, sem antes compreender o todo? Por que enxergar a deficiência, antes
mesmo de sabermos mais sobre aqueles que não andam, não enxergam, ou não ouvem?
Por que apontar o que o outro não pode fazer, antes de perguntar o que ele tem
à oferecer? São muitas indagações, porém necessárias, pois as mesmas nos
incomodam e nos inquietam, mas também nos impulsionam a buscar novos
horizontes, saídas onde juntos possamos construir uma nova cultura de
valorização nas diferenças e diversidades.
Para o personagem
do texto, o senhor Palomar, é preciso desconstruir para construir. Não existem
modelos ideais. Modelos são modelos, precisam ser modificados, transformados.
Em determinado momento ele defende que quanto mais modelos, mais possibilidades
se têm para “obter modelos transparentes, diáfanos, sutis, como teias de
aranha; Talvez até mesmo para dissolver os modelos, ou até mesmo para dissolver-se
a si próprio”.
Diante do exposto, só nos resta fazer o
que Palomar fez “apagar da mente os modelos, e os modelos de modelos”, dessa
forma, uma importante tarefa nossa é compreender que as mudanças não poderão
ser meras execuções e orientações técnicas ou instrumentais. Mudar a prática
pressupõe a transformação de todos os envolvidos nos diversos segmentos, e isso
não é tarefa simples, pois não se faz do dia para a noite, principalmente se os
protagonistas não estiverem imbuídos de uma vontade interior, que lhes permitam
ir em busca da concretização desses propósitos, cujos resultados nos remeterão
à uma ampla compreensão da realidade mal padronizável e não homogeneizável onde
os desafios encontrados na caminhada nos conduza a ter a sabedoria de partir do
todo para as partes.
FONTES:
CALVINO, Italo. PALOMAR. Disponível em: <http://estudanteuma.files.wordpress.com/2013/04/italo-calvino-palomar-rev-cc3b3pia-cc3b3pia.pdf> Acesso em: 29 de junho de 2014
FIGUEIREDO, Rita Vieira de (Organizadora). Escola, diferença e Inclusão. Fortaleza: Edições UFC, 2010.
ROPOLI, Edilene Aparecida; [et-al]. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: A escola comum inclusiva. Brasília: Ministérios da Educação, Secretaria de Educação Especial; [Fortaleza]: Universidade Federal do Ceará, 2010.
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